Promessas quebradas constroem histórias


E então ela saiu do café. Seus cabelos compridos iam até a cintura, se enrolando graciosamente nas pontas. O vento batia, e no momento ela só queria uma blusa mais quente do que aquela que estava vestindo. Cabelos voando, chocolate quente na mão direita, olheiras que já haviam se alojado embaixo de seus olhos. Pelos do braço arrepiados, frio. Pois é. O inverno chegou.

Uma olhada no celular só para ver se não perdeu a hora. Mas olhe só, que pontualidade britânica. Qualquer um que passasse ao lado dela agora, conseguiria ler em seus olhos o que estava pensando: "ufa". Uns minutinhos a mais são ótimos para pensar na vida. Ou nas coisas que acontecem e que ajudam a construí-la.

Trinta de setembro de dois mil e onze. Talvez nunca mais esquecesse essa data, talvez nunca lembrasse porque foi tão burra a ponto de falar o que sentia. Pobre garota. Ao abrir o coração, levou um soco no estômago. Disse com a maior sinceridade do mundo tudo o que estava entalado, implorando por socorro, gritando para sair. Quando então ouve de volta um "isso não faz diferença pra mim".

"Ah, não faz, é? Vá para o inferno então, idiota! Esqueça que eu existo e de tudo o que nós vivemos!" Ela queria ter falado isso, mas não falou. Vocês sabem. Meninas que têm a coragem de se declarar, têm a coragem de ser fortes o suficiente. Para serem indiferentes, ignorarem e até mesmo esquecerem. Pena que essa última opção não é uma escolha delas. É da vida.

O tempo passou, e ela foi dormir todos os dias pensando nele. Acordava e lembrava da promessa que havia feito para si mesma. A de nunca mais cair em situações assim novamente. Ou de se entregar e acabar caindo em braços que ela não sabia se podiam lhe segurar. Aliás, a promessa principal era: não se entregar mais à ele. Sempre ele. Ou para sempre, como preferir.

Não importa o quanto o beijo dele fosse bom, seu bom-humor contagiante e seu colo a confortasse. Nunca nunca nunca. Nunca mais. Não importa o que acontecesse, quantas milhares de declarações ele faria, quantas flores daria à ela. Não importava, afinal, o quanto ele se arrependesse e quisesse arrumar as coisas. Porque a garota era decidida. Tinha amor próprio suficiente para aguentar a distância, o sofrimento, e manter sua promessa. Que era a de ficar longe o máximo possível da pessoa que amava.

É tudo bem previsível. Os papéis se inverteram. Ele aprendeu o que é amar de verdade, e para ela "não fazia mais diferença nenhuma".

O tempo passou mais um pouco. Coisas que só os dois sabem, aconteceram. De repente eles estavam se beijando de novo, e provando que nada é nunca. Nem para sempre.

A garota então tirou os olhos do celular. Hora de ir. Ao chegar ao seu destino, se deparou com o motivo de seus sorrisos. Quebrou a promessa inquebrável de que não voltaria atrás. E foi em frente. Continuar a construir a sua história.

Acho que a vida é isso. Se render ao erro. Saber que coisas mudam, pessoas crescem, e o mundo dá voltas. Escolhas nos trazem experiências, que nos fazem, futuramente, ter boas escolhas. E boas histórias.

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