Tudo poderia ser mais simples
Acordei, é claro que se inicia pelo verbo amaldiçoado final.
Desprendi de vida, flores, dias, e tempos… Perderam-se todos estes e não quero
encontrá-los. Foi um crime perfeito, entende? Receberam um presente (meu), um
diploma enrolado num canudo e no altar, agora nomeados “prometidos e
escolhidos” a dedo numa assembléia dos cinco sentidos. Decidiram: livres.
Partiram: à sobra de uma salva de palmas.
Livres? Rejeitados.
Acordei ao quarto, à cama, aos olhos, ao chão frio que assusta o
pé, que engraçado, minhas bochechas respondem à nevasca abaixo. É o que tenho
agora. Meu rumo é o que a ponta da língua diz ser, a profecia sou eu, o
sacerdote é o meu redor. Recuso-me a tatuar os improvisos de desconhecido na
derme. A tinta é o veneno do desgaste do tempo, a mutação dos dias, o engano
das flores cheirosas no jardim. Vivo de matéria, a antimatéria já se foi à
borda do mundo, o que me calou a vida inteira irrompeu numa vibração do peito a
garganta… Agora todos esses se calaram.
Não sei do amor. Um dia recebi uma carta dele em uma promessa
falante. Ele é tão inquieto e pecador. Cada pecadinho um perdão à coisa errada
(ou dita errada), mas está do lado da matéria. Também do sorriso e dos olhos
pecadores da direita e iluminados da esquerda. Ah, só depende do sentido de
vista. Desprendi-me da cabeça, os racionais adotaram essa história de
antimatérias subjetivas… Existem, longes, presas, rasgando o mundo do lado de
fora, fazendo baderna nos limites da loucura. Nada contra crescer ou
enlouquecer, em achar ou perder-se, nada contra nada. Eu quero é acordar e ver
a verdade refletida no teto, e os cantos dos passarinhos talvez sejam mais
estridentes do que a harpa dos anjos. As paredes de concreto ninguém sabe do
que foram feitas, mas olhem só, são mais coloridas do que rígidas. Os sentidos
se voltaram contra tudo e se aconchegaram com o nada dos objetos frívolos. Um
vestido colorido é o que tem para hoje, abraçado às minhas pernas, sorrindo por
esconder um segredo, enfeitado por outros olhos e florido por natureza. Um
vestido rodado é a bênção da manhã.
Amor e sonhar é a matéria que tem para mim, hoje e no fim.
Acordei.
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